Queridas irmãs e irmãos em Cristo, no dia 5 de Março, Quarta Feira de Cinzas, estaremos iniciando mais um tempo de Quaresma. São 40 dias antes da Páscoa que relembram a caminhada no deserto feita pelo povo hebreu depois da libertação da opressão do Faraó no Egito. Nestes dias também lembramos os anos do Exílio Babilônico (quando as elites de Judá passaram pelo mesmo mal que elas causaram). Lembramos os dias de Jesus no deserto (dias de jejum e tentação diante dos poderes diabólicos que prevalecem no mundo). Enfim, a Quaresma nos desafia, a cada ano, com a frase “lembra que és pó e ao pó voltarás”, isto é, um tempo em que nos enfrentamos com nossas próprias fragilidades diante de Deus, diante da Vida e diante da nossa humanidade.
O apóstolo Paulo escreveu “E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são” (1 Coríntios 1:28). Será que eu sou “vão” e desprezível”? O Evangelho de Cristo nos convida a assumir que mesmo sendo vão e desprezível posso ter em mim a grandeza de Deus. É o que fazemos quando assumirmos nossas cinzas na Quaresma. Se assumirmos as cinzas elas poderão ser o adubo de nossa fé!
O mesmo vale para o que fazemos com toda a criação, poluída e estruída por causa de nossa ânsia consumir, de explorar e lucrar. Estas ânsias vêm movimentando o mundo onde vivemos você e eu. Da mesma forma justificamos a injustiça, a violência, a miséria, a guerra e desrespeito aos valores mais básicos do convívio humano.
Aproveitemos este tempo para dimensionarmos, da melhor forma possível, quanto Deus em Cristo é Vida em nossas vidas! Quanto se faz necessário assumir nossas fragilidades. Quanto o amor de Cristo é fundamental para que possamos construir novas percepções de nossa vida e novas bases para nossas relações interpessoais, familiares, comunitárias, culturais, sociais, políticas, econômicas, etc.
Queridas irmãs e irmãos em Cristo, a Quaresma não é um tempo de tristeza, é um tempo de verdade! Verdade que encontramos seguindo o ensinamento de Cristo, conforme está escrito na rosa dos ventos que simboliza a Comunhão Anglicana, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32).
Devemos nos alegrar com a verdade sobre nós, a verdade de nossas falhas é que nos faz ser melhores pessoas. Devemos no alegrar com a verdade de nosso mundo, porque ela envolve a beleza da criação e desafio de preservar sua integridade e sua vida. Devemos nos alegrar com a verdade sobre nossas fragilidades humanas porque elas nos motivam a nos superar, a viver a solidariedade criativa e amorosa. Convido, portanto, cada pessoa e cada comunidade de nossa diocese a viver com alegria este tempo de libertação e transformação chamado “Quaresma”.
Em Cristo,
+Dom Humberto Eugenio Maiztegui Gonçalves
Bispo Diocesano